Por Duda Martins
No quarto dia de Mostra Capiba de Teatro, um espetáculo diferente dos demais. O Capataz de Salema, da Cia Fiandeiros de Teatro apresentou uma peça de encher os olhos e ouvidos. Resultado de excelentes escolhas estéticas e um texto pra lá de rico. Mas quase não acabava...
O que mais fascina na trajetória da Fiandeiros é a sua intimidade com a música. Este espetáculo não foge à regra dos outros dois, Vozes do Recife e Outra Vez, Era uma Vez..., onde a poesia e a harmonia andam de braços dados com o teatro, proposta intrínseca a companhia e herança cada vez mais alimentada por André Filho, um diretor que enxerga as artes cênicas como um entrecruzamento de linguagens, principalmente quando se trata de literatura e, mais uma vez, música. Já ouvi de alguns mestres do teatro que ator completo é aquele que também canta. Não sei se é pre-requisito na escalação da Fiandeiros, mas diria que o diretor está bem servido com um time afinado, com excelente timbre, e boas noções ritmicas.
A escolha cênica de André para o Capataz de Salema, no entanto, que apresenta um texto totalmente metrificado, e que musicalmente falando se mostra numa cadência ritmca sempre de 3 ou 4 compassos, pode ser perigosa. O ritmo é tanto aliado quanto armadilha, principalmente quando se trata de uma obra difícil, como a de Joaquim Cardozo. Mesmo sabendo que a proposta de encenação é impor um outro tempo cênico, entre degustar as palavras e a monotonia, ontem quem ganhou foi a segunda. A peça demorou para acontecer. Somente quando entra em cena Manoel Carlos, numa interpretação fabulosa da Sinhá Ricarda, o texto volta a ser saboreado pelos espectadores. Até então, cenário, figurinos, marcas, chamaram muito mais atenção que a história, que se arrastava numa interminável conversa entre Luzia e João. A interpretação dos atores, com exceção do já citado Manoel, poderia ser uma ferramenta para sacudir um pouco os sentimentos, mas sobrou uma certa apatia. O ritmo, desta vez, foi uma armadilha.
Por outro lado, cenários, figurinos e iluminação resgataram do mar o que estava por se afogar. Manoel e André fazem uma parceria incrível quando se trata destes itens. O cenário é primoroso, as cores, os figurinos gastos na medida. André acertou em cheio com a ideia das parcas, da roca de fiar, do fio da vida. Um lirismo visual belíssimo para tratar de temas tão duros como a morte. A iluminação tão delicada e forte ao mesmo tempo, lembrou as características cinematográficas que tanto me impressionaram em Em Nome do Desejo (1990), da Companhia Teatro de Seraphim, da qual André participou ativamente e com certeza multiplicou habilidades que já se mostravam evidentes naqueles anos.
Por outro lado, cenários, figurinos e iluminação resgataram do mar o que estava por se afogar. Manoel e André fazem uma parceria incrível quando se trata destes itens. O cenário é primoroso, as cores, os figurinos gastos na medida. André acertou em cheio com a ideia das parcas, da roca de fiar, do fio da vida. Um lirismo visual belíssimo para tratar de temas tão duros como a morte. A iluminação tão delicada e forte ao mesmo tempo, lembrou as características cinematográficas que tanto me impressionaram em Em Nome do Desejo (1990), da Companhia Teatro de Seraphim, da qual André participou ativamente e com certeza multiplicou habilidades que já se mostravam evidentes naqueles anos.
O Capataz de Salema é uma montagem muito bonita, de muito bom gosto nos mais diversos aspectos. Com um tempo razoável de trajetória, a Companhia Fiandeiros de Teatro (2003) já é muito respeitada na cena local, por sua originalidade e trabalho sério de pesquisa. Eu louvo a paixão de André pelo que faz, assim como a sua visão diferenciada para o teatro. Falta a companhia, no entanto, focar um pouco mais no ofício do intérprete.
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Sobre a crítica...
Duda Martins
É Jornalista e trabalha como repórter no Caderno C (Jornal do Comercio PE). Em 2010 fez as coberturas de Turnê Dionisíacas Teatro Oficina no Recife, Festival Palco Giratório, Janeiro de Grandes Espetáculos e participou como critica do Seminário Internacional de Crítica Teatral.
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