Por Wellington Júnior
A autora de Cordel do amor sem fim, Claudia Barral, é umas das mais importantes dramaturgas da região nordeste. Claudia escreveu também Dias de folia, O cego e o louco, Como Almodóvar, Terceiro Sinal, entre outros textos.
Todos os trabalhos de Barral dialogam com sua geração de dramaturgos nordestinos, que fazem parte: Marcos Barbosa (CE/BA), Luiz Felipe Botelho (PE), Rogério Mesquita (CE), Rafael Martins (CE), Yuri Yamamoto (CE), Adriano Marcena (PE). Estes autores de diversos estados da região nordeste tentam entender as misturas desse imenso caldeirão cultural que é o teatro nordestino.
Claudia Barral marca sua dramaturgia por uma idéia de poesia e diversidade temática. Em Cordel do amor sem fim, a dramaturga realiza uma pesquisa sobre o imaginário popular, refletindo sobre o amor e a espera.
A história do texto narra chegada à cidade de um moço de nome Antônio, que conhece Teresa. Desde o primeiro encontro acontece uma intensa paixão entre os dois. Depois de um tempo se encontrando, o rapaz tem que ir embora da cidade, mas, antes de partir, promete à jovem que voltará para buscá-la em missão de casamento e levá-la para morar na capital.
Essa é a história de Teresa, do seu amor que não descansa, de sua esperança que não morre. Teresa, a moça, que por causa de um Antônio que prometeu que voltava para buscá-la, comprou briga com o tempo, pai dos esquecimentos. E Teresa, parada, sozinha, não esquece, enquanto todo o resto se transforma, enquanto o rio passa lavando as almas e transformando os homens.
A forma poética de Barral é encantadora na construção das imagens e sonoridades propostas pelo texto, mas acredito que em alguns momentos a idealização sobre a região nordeste e o estado amoroso pode engessar a estrutura de ação, buscando muito mais um formalismo idealizado do teatro nordestino.
Mas por sorte da autora, ela está sendo encenada pelo excelente diretor Samuel Santos, que conseguiu com sua escrita cênica transformar esses pequenos problemas da escrita de Barral, retirá-la da região nordeste e colocá-la no mundo. O espetáculo conduzido por Santos buscou trazer os elementos arquetípicos para o centro da discussão, sem tentar localizar especificamente em alguma região do planeta, fazendo isso conseguiu ampliar os significados do texto de Barral.
Vendo a trajetória de Samuel Santos, percebo que esse é um de seus trabalhos mais maduro. Nele, sua escrita cênica ganha um assinatura cada vez mais clara e precisa, alem de aprofundar o trabalho dos atores. Fico muito contente de acompanhar o crescimento do repertório estilístico desse encenador que sem sombra de dúvida é muito importante para entendermos a encenação contemporânea em Pernambuco.
Os atores Agrinez Melo, Eliz Galvão, Naná Sodré e Thomás Aquino estão completamente envolvidos na proposta da encenação e conseguem com uma força impressionante exercitar a presença em cena de seus personagens. A escrita interpretativa traz uma interessante mistura intercultural, o que implode a estrutura idealizada da autora, mas contribui para uma ampliação de sentidos nas trajetórias das personagens.
Tive a sorte de assistir O cordel do amor sem fim três vezes em diferentes situações e fiquei muito feliz ontem quando vi o crescimento impressionante do trabalho, pois sinto cada vez mais que a proposta está mais e mais orgânica na estrutura espetacular. Vida longa a esse amor para além do cordel.
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Sobre o crítico...
Wellington Junior
Diretor e ator de teatro, foi Professor do curso Regular de Teatro Sesc Santo Amaro (2001-2005), dos cursos livres do Sesc Piedade (2001-2005). Participou da Curadoria do VIII Festival Recife de Teatro Nacional (2005); Seminário de Critica Teatral (2005,2006 e 2010). Colaborador durante os anos de 2007 e 2008 no Portal TeatroPE. Em 2006 e 2007 foi Coordenador Pedagógico do Festival Todos Verão Teatro, realizado pela Federação de Teatro de Pernambuco.
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