Por Duda Martins
Me pego fazendo a segunda crítica para Cordel do Amor sem Fim, apresentada ontem na programação da IV Mostra Capiba de Teatro. Na peça, atores jovens e vivos que me emocionam. Encenação apaixonada e criativa de um diretor determinado, um fôlego de beleza e talento para o teatro pernambucano. Merecidamente, aplaudida de pé.
O meu primeiro contato com a direção de Samuel Santos foi justamente com este espetáculo, há dois anos. A realidade era outra. Eu participava de um curso de crítica ministrado por Kil Abreu, e Samuel, também aluno, convidou os críticos para assistir ao ensaio geral de Cordel, que na época já estava pronta, mas não tinha onde estrear (fenômeno raro por aqui). Fomos a uma salinha apertada em um dos prédios antigos do Bairro do Recife. Não me recordo onde exatamente. Estava calor. Não havia figurino, nem cenário, apenas alguns objetos cênicos. Mas o vigor era o mesmo. A entrega era a mesma e eu nunca apaguei aquelas cenas da minha memória.
Cordel do Amor sem Fim é uma peça para ver e rever. Porque é rica vários aspectos. Como já adiantei, o trabalho de ator para mim é o que mais se destaca. Os movimentos, entonações de cada personagem revelam cuidado com a obra da dramaturga baiana ainda não muito conhecida, Claudia Barral. O apuro de Samuel na condição de diretor e encenador é apaixonante. Exigente, ele sabe fazer seu elenco ser respeitável, por mais jovem que seja. Esse trabalho não se limita a Cordel, mas tantas outras empreitadas em que já se aventurou.
O exercício corporal e vocal é coerente com a temática do texto que continua sendo a mais urgente à nossa época, o tempo. As técnicas de Tai Chi Chuan utilizadas por Samuel lembram o teatro biomecânico proposto por Meyerhold, onde o corpo se torna mais um objeto em cena, e vez por outra, dialoga mais do que as palavras. As demais soluções cênicas são dignas de destaque, por sua funcionalidade, como a porta que se transforma em quatro bancos ou o quarto de Madalena, representado por um mosquiteiro.
A sonoridade do espetáculo executada por Diogo Lopes é simples e eficaz e interage perfeitamente com os personagens de Carinhanha. Falta, entretanto, aos atores, afinação musical e desde 2008 percebi isso. Os excelentes intépretes não são bons cantores. Isso não constitui nenhum demérito para o espetáculo, mas é uma falha gritante, que já poderia ter sido corrigida. Uma possível solução é explorar mais a potência vocal de Diogo, que claramente se destaca por sua verve musical.
Samuel mais uma vez está de parabéns. Que venham mais cordéis, historinhas, terras de meninos pelados...
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Sobre a crítica...
Duda Martins
É Jornalista e trabalha como repórter no Caderno C (Jornal do Comercio PE). Em 2010 fez as coberturas de Turnê Dionisíacas Teatro Oficina no Recife, Festival Palco Giratório, Janeiro de Grandes Espetáculos e participou como critica do Seminário Internacional de Crítica Teatral.
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