segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A salvadora da comédia em Pernambuco

Por Duda Martins

O oitavo e último espetáculo da IV Mostra Capiba de Teatro iniciado no último sábado no Sesc Casa Amarela me fez sentir esperança. Há salvação para a comédia em Pernambuco. O Amor de Clotilde por um Certo Leandro Dantas quebrou em mim certas frustrações, acumuladas ao passar de alguns anos, após tentativas de grupos que optam pela comédia. A Trupe Ensaia Aqui e Acolá desenvolve uma pesquisa muito séria sobre o honroso ofício de colocar um sorriso no rosto do espectador.

Há tempos não assisto um trabalho tão bem feito no Recife. Em meio às gargalhadas percebi o apuro teatral desse coletivo, que começa por um texto fabuloso, com crescentes cômicos excelentes, que faziam a plateia aplaudir em cena aberta, até momentos de tragédia profunda que nos comoviam facilmente. A peça foi livremente inspirada no conto A Emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, datado do início de 1900, que conta a história do pai que emparedou a filha depois de descobrir que a moça engravidou do amante.

De forma maravilhosa, o grupo se apropria do circo-teatro e do melodrama para fazer um verdadeiro espetáculo de humor, que para mim, encontra o seu maior mérito em não ser apelativo (é só o que vejo no cenário local), utilizando uma linguagem rica e completamente acessível para qualquer camada social. Pronto, redescobriram a boa comédia para os palcos do Recife. Ou será que as produções locais não aprenderam nada com os ensinamentos de Marco Camarotti? Ou será que os grupos não conseguem mais serem populares, sem necessariamente baixar o nível e submeter o público desta cidade ao velho e imorrível “entretenimento de baixaria”. Porque é basicamente essa a referência da massa, quando se trata de um convite: “vamos ver uma peça de comédia de um grupo local?”. Posso estar generalizando, e me desculpe quem foge à essa regra majoritária, mas há tempos não me surpreendia , como aconteceu com O Amor de Clotilde.  Eu estava cansada de assistir comédias no teatro do Recife e ter vontade de apertar o mute, para ninguém mais ser mais obrigado a ouvir tanta asneira. E os ouvidos não têm pálpebras. Uma pena.

Enfim, estou tergiversando, como diria meu amigo e mentor José Teles. O fato é que a Trupe entende o que é criar um espetáculo de qualidade que atinge do público mais intelectual aos alunos da rede estadual, e podem levar um lindo, divertido, inteligente entretenimento (no sentido mais cru da palavra) para qualquer lugar. E  que continuem exercendo esse trabalho, para que esses meninos não guadem esse teatro infame como referência.

Antes de começar a peça estava conversando sobre como é gratificante ver um bom ator em cena. E qual não foi minha surpresa, reafirmar isso para mim mesma durante toda a apresentação. Comecei anotando no meu bloquinho qual o ator destaque, mas de cinco em cinco minutos, anotava um outro nome, e encho a boca para chamá-los de atores, porque o são e são completos. Além do encenador Jorge de Paula, que merece um parabéns especial por sua seriedade com a arte. As marcas são sensacionais.

E encho a boca ainda para falar de Marcodes Lima, que assina o figurino desta montagem e tudo o que eu vejo deste profissional me enche os olhos. De modo que estou transbordando de alegria (seguindo a regra do melodramático)  por ter visto o teatro feito por esse grupo de jovens. Uma montagem que merece ter longa vida, para além de Pernambuco, mas principalmente por honrar o teatro pernambucano.   

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Sobre a crítica...

Duda Martins
É Jornalista e trabalha como repórter no Caderno C (Jornal do Comercio PE). Em 2010 fez as coberturas de Turnê Dionisíacas Teatro Oficina no Recife, Festival Palco Giratório, Janeiro de Grandes Espetáculos e participou como critica do Seminário Internacional de Crítica Teatral.

2 comentários:

  1. que bom ver isso acontecer em recife... mas oq vc e o "publico" de Recife estão fazendo para mudar esse quadro de comédias apelativas do nosso estado? Jorge de Paula e o Grupo dele estão fazendo... e muito bem!!!! Vamos parar de lastimar a cena local e fazer alguma mudança não é? estou cansado de ouvir lamurias e, por incrivel que pareça, quem as faz não contribui muito para mudar. Falo isso generalizando.... NADA PESSOAL! Outro dia um critico avaliador do festival recife do teatro nacional lamentou não estar na grade uma determinada comédia que está em cartaz no Valdemar de Oliveira... Que fez ele pensar assim? que olhar diferenciado foi esse?
    parabés ao sesc pela mostra...
    Paulo de Pontes

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